23.1.22

A Ceiba speciosa e seu espinhos

Quantas vezes não somos Ceiba? Ou com quantos destes exemplares acabamos nos relacionando afetivamente - lembrando que o afeto transita em todo o tipo de relação -, não é mesmo ?

A característica clássica desta árvore é seu tronco espinhoso na fase “juvenil” e, geralmente, solitário, sem tantas associações visíveis como em outras espécies que podem ser tomadas por trepadeiras, musgos e afins ou pássaros. Não é uma espécie em risco de extinção ou pouca vista, possivelmente ao longo de uma rodovia ou praça você a encontrará, e em alguma época do ano irá vê-la não florir, mas repleta de suas sementes cobertas por fibra, parecendo algodão.

As pessoas são assim também, cada uma com sua forma de defesa, os espinhos nem sempre são de todo mal ou amargura. Quando eles começam a cair dá se espaço para que os pássaros possam criar seus ninhos e a paina se enche mais ainda em suas últimas “floradas”. É o seu ponto alto!

Portanto, em alguns momentos também nos comportamos como Ceiba, mas sempre, para dar espaço para o que há de mais belo, tudo faz parte de uma construção e é importante respeitar o tempo. Em ecossistemas espinhosos apenas espécies persistentes e resistentes conseguem se adaptar e aproveitar o lado bom de permanecer. Amigos são como plantas, regue-os sempre.


Quando o mar transborda

 Um dos primeiros ambientes a se criar e ter vida foi o mar. Uma pequena sopa proteica deu origem às células primordiais que aos poucos foram crescendo, se reproduzindo de mil formas e ocupando espaço, assim como as paixões. São pequenos gatilhos enzimáticos e hormonais que geram reações, sinapses, choques que afetam a espinha e fazem o movimento dentro do mar, dentro dos corpos.

Todo dia é como se fomentássemos a formação de cada parte desse ecossistema, cada espaço, cada reação, cada nascimento e cada morte. Ecossistema este nunca finalizado e sempre se movimentando em sistemas complexos incompletos sentimentais, assim como surgem e vão embora as paixões.

E as paixões cada vez mais são exemplos sentimentais de como os ecossistemas estão em constante adaptação e mudança, afinal, o que são todas as interações se não exemplos clássicos das nossas relações? Não seriam as espécies invasoras aquela relação que sempre lutamos contra mas que é tão difícil recusar e nos invadem sem pedir licença? Ou então, as ervas oportunistas que na mínima distração podem estar em nossa cama, espalhadas por toda nossa casa? Ou melhor, aquela vegetação primária que após os términos começam a brotar sedosas, crescendo rápido e quando menos esperamos surgem as flores, e logo estão se reproduzindo, para dar espaço às próximas.

Eu lembro da vez que a paixão foi ela, passou feito corrente superficial pelo meu oceano mas de tão forte que os ventos a empurravam que achei por um momento que pudesse se incorporar ao meu mar. Era como um tufão daqueles que devastam tudo, não sobrando sequer uma árvore em pé. E realmente, ela é devastadora. Te devora em segundos, concentra toda energia em seu corpo e de repente se esvai na calmaria pós tormenta.

Mas como disse, apesar de forte não ficou, o regime de marés seguiu sem qualquer alteração - até o momento. Mas gostaria de contar, como tudo aconteceu, aqui deste posto de às vezes marujo, às vezes capitão.

Os ventos fortes enfeitiçam os barcos, você solta o leme e deixa ser guiado, é a melhor experiência! Você de repente está dominado e só resta seguir para onde o vento está te levando, caso contrário é certo que haja avarias graves na embarcação.

Era como se houvesse uma troca de energia exclusiva onde tudo se dissipasse apenas entre nossos corpos, era feito combustão espontânea: começava sem ninguém saber como e de repente havia uma fagulha, havia fogo, e estávamos ali em qualquer parte daquela embarcação. Lembro que o vento soprava forte sul, e descia conhecendo cada parte sua com minha mão navegando por suas costas. Contornando toda a costa encontramos sempre fendas e braços de rios, sempre úmidos mas nem sempre próprios para navegação. É preciso conhecer bem, tatear, às vezes ao menor toque é preciso mudar a rota. Mas quando se adentra é de se perder por todo mar.

Um mar bom para navegar é aquele que se permite, é o que se entrega não com águas calmas mas navegáveis, exploráveis. Basta respirar e retornar, não de onde parou, mas por onde não passou. A cada empreitada é uma nova descoberta, é um som, um toque, uma sensação que invade o peito, embriaga o corpo e rodopia a mente. Depois de explorar sempre temos a fase a vapor das caldeiras, o último suspiro.  Decretamos força total a equipe das máquinas, e aceleramos fortemente até, de tanta pressão liberarmos aquele apito que fatalmente nos faz recolher os lemes e repousar.

Agora vamos falar mais sobre este ecossistema, lembrando que este ambiente se forma ao longo dos anos e contém muita história e memória, ou seja, não há um traço único, todos são composições do passado e do agora em constante mudança e adaptação. 

Um dos traços claros é o aparecimento de flores em épocas não definidas, não se parece ter condições ideais elas veem, florescem as vezes chegam a maturidade e exalam seus poros outras vezes mão chegam a abrirem seus botões. São como orquideas que ficam com as raízes expostas dançando entre se alimentar das gostar de orvalho que escorrem pelas folhas